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Influência cultural marca as negociações internacionais

Como a cultura é utilizada durante as negociações entre os representantes de países; diplomatas levam em consideração costumes locais

Descobrir como a cultura é capaz de influenciar as decisões no decorrer de uma negociação é interessante para desempenhar o papel de diplomata. Ter noção de que os hábitos e as interações ao redor do mundo podem ocorrer de diferentes formas auxilia na hora de traçar um plano de discussão e apresentar uma proposta. Apenas no Instituto Rio Branco é feita a preparação de diplomatas em diversos âmbitos, inclusive o cultural. Saber que a conquista de territórios passou a ser uma função articulada pelo alcance da globalização faz parte do ensinamento.

O diplomata formado em direito internacional Arnaldo Salabert fez parte do Departamento Cultural do Itamaraty. Ele explica dois termos utilizados em relações internacionais para descrever a habilidade de um Estado influenciar de indiretamente o comportamento e interesses de outros países a partir da cultura: hard power e soft power.

Ao citar o exemplo dos Estados Unidos, o diplomata, demonstra a projeção do poder que os Estados têm como Produto Interno Bruto (PIB), força militar, recursos minerais, naturais entre outros. Isso, segundo ele, é a representação do hard power.

O soft power determina a facilidade da introdução da cultura de um determinado país em outros. De acordo com ele, a difusão cultural feita pelos Estados Unidos se reflete na exportação da música e do cinema. “Todo mundo conhece os Estados Unidos sem nunca ter ido lá. Já faz parte do imaginário popular”. Para ele, isso é importante porque os países não impõem mais sua vontade pela força. Eles procuram manter relações pacíficas e o meio para persuadir e negociar é a simpatia.

Nesse sentido as ações do Brasil junto à Unesco são baseadas no objetivo de respeitar e promover a diversidade, o direito à cultura, o diálogo intercultural, a cultura de paz e a preservação do patrimônio cultural. Um dos desafios identificados para preservar a tradição cultural é conciliar isso aos novos processos de desenvolvimento. O discurso da França, por exemplo, é o de que os subsídios agrícolas oferecidos para produtores de vinho e queijo são uma tentativa de cultivar e manter as tradições culturais.

O diplomata brasileiro se preocupa com a tendência de o produto da globalização ser a uniformização da cultura. “Todo mundo acaba formando as mesmas referências”. O resultado disso, para ele, é a criação de uma cultura urbana geral. “Até a comida fica parecida”. Para enfatizar a afirmação ele cita o exemplo dos chineses que não tinham o costume de comer carne bovina e agora comem no Mc Donald´s. No entanto, na Itália, por exemplo, o restaurante fast-food se viu obrigado a adaptar o cardápio à tradição culinária do país.

Negociações entre países

O interesse em participar do cenário internacional de maneira ativa atrai não só os profissionais de relações internacionais. O ator formado em artes cênicas pela Universidade de São Paulo (USP) João Luiz estuda agora para entrar no Concurso de Admissão do Instituto Rio Branco (IRBR) e iniciar a carreira diplomática no cargo de terceiro secretário. O que despertou o interesse dele por conhecer outras culturas ao redor do mundo foi o intercâmbio para a Inglaterra do qual participou depois da graduação. Para ele, o diplomata deve ser bastante tolerante e compreensivo com os hábitos e costumes de outros países. “Quanto mais souber da cultura da pessoa e como ela vê as coisas melhor será o resultado da negociação”.

A questão mais relevante envolvendo cultura nas negociações, descrita pelo cientista político Aninho Irachande, é precisar ter um parâmetro de comparação para melhor entender a origem da cultura nacional. Segundo ele, isso exige uma abstração grande para compreender o que se passa em outros países. “Aprender a cultura de outro é o primeiro passo para a convivência. Se colocar no lugar do outro, tendo acesso a informações sobre ele”, explica. Ele acredita que não se pode isolar do mundo e se privar das experiências de outros povos.

Ainda segundo Irachande, no que diz respeito a países, cada um pensa nos respectivos povos. É preciso construir seus objetivos sem prejudicar os outros. Conhecer as intenções e propósitos, saber limites de até onde pressionar, exigir, e do que o outro pode abrir mão. “É preciso saber reconhecer as intenções dele [o país em questão] ao se sentar do lado oposto ao seu na mesa, na hora de discutir e negociar”, afirma o cientista político.

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